A partir de 1944, a II Guerra Mundial não foi apenas uma gloriosa ofensiva do exército Aliado contra as forças do Eixo, por toda a parte em retirada. Foi, também, a epopeia, porventura menos gloriosa mas nem por isso menos dramática de todos aqueles que compreenderam que o seu tempo tinha chegado ao fim e iniciaram uma fuga desordenada através da Europa em ruínas. De Castelo em Castelo é o romance de um desses percursos: de Paris a Sigmaringen, na companhia de Pétain e seus ministros, da Alemanha para a Dinamarca e, enfim, de regresso a França, para Meudon, onde o Autor e protagonista deste romance auto biográfico viverá, amargurados, os seus últimos anos. De Castelo em Castelo é considerado, juntamente com Viagem ao Fim da Noite e Morte a Crédito, um dos grandes livros de Céline. Escreve o tradutor Aníbal Fernandes na sua introdução ao livro "Três em Pipa": "Voz muito invulgar, a deste autor não muito jovem que vinha inquietar de surpresa as velhas letras da França e afinal era voz de médico, de um tal Dr. Destouches que pedira -- para coisas da literatura - emprestado à sua mãe Céline o nome próprio; ex-segundo-sargento em Rambouillet, medalhado da Grande Guerra com direito à capa de "L'Illustré National", ex-agente da companhia florestal Shanga-Oubangui nos Camarões, ex-médico da Sociedade das Nações e por aqueles dias instalado num consultório barato e quase de subúrbio, a ganhar 'entre calotes e borlas' - como podia - a vida. O espanto que as fortes personalidades provocam anda sempre de mistura com a surpresa indignada. Houve quem decidisse difícil de engolir tanto talento, ainda por cima chegado por caminho lateral às letras, ainda por cima a passar sobre cadáveres repentinos de escrita encartada, a deixar velha - e velha de vez - a sintaxe de bom-senso da 'boa' literatura francesa. Mas houve logo, também, os 'fanáticos' da Viagem ("Viagem ao Fim do Mundo"). Simone de Beauvoir, por exemplo, confessa que chegou a saber de cor algumas das suas páginas. O universo de Céline invadido por chamas e ruínas - a clamar com todas as fanfarras e por todos os desastres - surgia com uma veemência exclamativa que cortava a respiração ao leitor, deixava-o suspenso ou a saltar de pedra em pedra, sobre uma sinfonia de naufrágio. Céline era uma grande sensação nova literatura". Céline terminará a sua vida exercendo a profissão de médico e não de escritor em Meudon, no ano de 1961, sentindo a Medicina como verdadeira vocação e a escrita como um acidente, uma aldrabice, à qual foi, felizmente, incapaz de renunciar.
A partir de 1944, a II Guerra Mundial não foi apenas uma gloriosa ofensiva do exército Aliado contra as forças do Eixo, por toda a parte em retirada. Foi, também, a epopeia, porventura menos gloriosa mas nem por isso menos dramática de todos aqueles que compreenderam que o seu tempo tinha chegado ao fim e iniciaram uma fuga desordenada através da Europa em ruínas. De Castelo em Castelo é o romance de um desses percursos: de Paris a Sigmaringen, na companhia de Pétain e seus ministros, da Alemanha para a Dinamarca e, enfim, de regresso a França, para Meudon, onde o Autor e protagonista deste romance auto biográfico viverá, amargurados, os seus últimos anos. De Castelo em Castelo é considerado, juntamente com Viagem ao Fim da Noite e Morte a Crédito, um dos grandes livros de Céline. Escreve o tradutor Aníbal Fernandes na sua introdução ao livro "Três em Pipa": "Voz muito invulgar, a deste autor não muito jovem que vinha inquietar de surpresa as velhas letras da França e afinal era voz de médico, de um tal Dr. Destouches que pedira -- para coisas da literatura - emprestado à sua mãe Céline o nome próprio; ex-segundo-sargento em Rambouillet, medalhado da Grande Guerra com direito à capa de "L'Illustré National", ex-agente da companhia florestal Shanga-Oubangui nos Camarões, ex-médico da Sociedade das Nações e por aqueles dias instalado num consultório barato e quase de subúrbio, a ganhar 'entre calotes e borlas' - como podia - a vida. O espanto que as fortes personalidades provocam anda sempre de mistura com a surpresa indignada. Houve quem decidisse difícil de engolir tanto talento, ainda por cima chegado por caminho lateral às letras, ainda por cima a passar sobre cadáveres repentinos de escrita encartada, a deixar velha - e velha de vez - a sintaxe de bom-senso da 'boa' literatura francesa. Mas houve logo, também, os 'fanáticos' da Viagem ("Viagem ao Fim do Mundo"). Simone de Beauvoir, por exemplo, confessa que chegou a saber de cor algumas das suas páginas. O universo de Céline invadido por chamas e ruínas - a clamar com todas as fanfarras e por todos os desastres - surgia com uma veemência exclamativa que cortava a respiração ao leitor, deixava-o suspenso ou a saltar de pedra em pedra, sobre uma sinfonia de naufrágio. Céline era uma grande sensação nova literatura". Céline terminará a sua vida exercendo a profissão de médico e não de escritor em Meudon, no ano de 1961, sentindo a Medicina como verdadeira vocação e a escrita como um acidente, uma aldrabice, à qual foi, felizmente, incapaz de renunciar.