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Sexo 20, da Sulfúria, acaba de entrar no PNL

Sexo 20, de Santos Fernando, editado originalmente pela Futura, em 1975, e reeditado em 2017 pela Sulfúria, acaba de entrar no PNL.


"Em curtos parágrafos, muitas das descrições, barrocas, dos ambientes naturais resolvem-se numa tonalidade onírica, de quadro ou de animação. “No céu, os refegos das nuvens descobriam seios virginalmente redondos, que despontavam sobre o dedo teutónico do palácio, rebolavam pelos socalcos dos vapores condensados, esfiapavam-se em leite, em ventres de espuma, em nádegas de algodão”. Sim, podiam a espaços ser versões literárias de animações de Terry Gilliam. A propósito de comparações: não é fácil encontrar familiares literários portugueses de Santos Fernando, espécie de Sterne da Lapa, sempre à procura do lúdico e do jocoso no texto, procurando muitas vezes, mais do que fazer avançar a acção, criar pequenos labirintos de gozo e sátira. Apetece emparelhá-lo com um Mário-Henrique Leiria ou com um José Sesinando. Ou então com um Alface."

(Nuno Costa Santos, Observador, Maio de 2017)


"Num livro de 1975 pode dizer-se que Santos Fernando continua a sorrir como no primeiro livro em 1957. Por isso pode escrever «A vida é uma carícia» ou «Há um santo para cada dia mas nem todos os dias são santos» e dissertar sobre o Mundo: «Procuras uma solução para o mundo? O quê, aqui? No próprio mundo? Chama-se a isso desenterrar palavras, sem glória.» Este livro é também uma viagem no tempo, no século 20 («Sexo 20») com uma memória da tropa em Tavira em 1948 (Luz, Fuzeta, Manta-Rota) onde havia um sargento arguto e um capitão que fizera duas guerras a cavalo na secretária. O facto de ter «ressuscitado» o avô Lindolfo leva-o do sorriso («O morto não dorme, repousa») àquilo a que podemos chamar a profecia: «A menos que, cem anos depois de me enterrarem, o meu descendente, em cuja fronte haverá a localização dos planetas, se resolva por uma das alternativas: pôr sobre a lage as minhas obras ou reabilitar-me os ossos.» Tantos anos depois de 1975, a página 37 deste livro proclama uma razão: o escritor repudia «o epitáfio com que durante muitos anos o sepultaram em vida». O tempo veio ao encontro dessa profecia, este livro é a prova."

(José do Carmo Francisco, Mesa dos Extravagantes, Abril de 2017)