«O meu pai gostava de brincar com as palavras, com os números, com as pessoas. Quando eu e as minhas irmãs éramos crianças falava-nos muitas vezes através de provérbios, de frases em rima, de máximas. Com o seu irmão José Palia e Carmo ou José Sesinando, nem sequer quando tinham uma conversa, o diálogo era efectuado por meio de jogos em várias línguas, com charadas, trocadilhos, gracejos e zombarias. Nós ficávamos paralisadas. O meu pai inventou livros com autores e títulos imaginários e fez capas para esses livros. Estas fotos foram realizadas em dois momentos, o primeiro no hospital e o segundo em sua casa. Servi-me de colagens que apliquei na sua face com a pele do rosto como suporte. São imagens doces, cómicas, fantasistas, onde o olhar é transformado, ora com os olhos abertos ora fechados, pode segurar numa flor, nuns pauzinhos chineses e fingir mesmo de chinês. Transformei o individual contingente numa universalidade mítica, modifiquei o rosto numa máscara, num engano. Oculto o meu pai, mas o camuflar revela … o indivíduo é perceptível mesmo encoberto? Tornei o sentido oposto ao de Nadar que chegava a tentar a semelhança e até mesmo a espiritualidade dos indivíduos. Neste trabalho não se reconhece logo a face que está coberta de recortes diversos. Ternos urna metáfora viva. Estamos perante urna negação do semblante, o rosto torna-se num valor plástico, é o lugar da experiência.» Maria José Palla | Lisboa, 15.05.2012
«O meu pai gostava de brincar com as palavras, com os números, com as pessoas. Quando eu e as minhas irmãs éramos crianças falava-nos muitas vezes através de provérbios, de frases em rima, de máximas. Com o seu irmão José Palia e Carmo ou José Sesinando, nem sequer quando tinham uma conversa, o diálogo era efectuado por meio de jogos em várias línguas, com charadas, trocadilhos, gracejos e zombarias. Nós ficávamos paralisadas. O meu pai inventou livros com autores e títulos imaginários e fez capas para esses livros. Estas fotos foram realizadas em dois momentos, o primeiro no hospital e o segundo em sua casa. Servi-me de colagens que apliquei na sua face com a pele do rosto como suporte. São imagens doces, cómicas, fantasistas, onde o olhar é transformado, ora com os olhos abertos ora fechados, pode segurar numa flor, nuns pauzinhos chineses e fingir mesmo de chinês. Transformei o individual contingente numa universalidade mítica, modifiquei o rosto numa máscara, num engano. Oculto o meu pai, mas o camuflar revela … o indivíduo é perceptível mesmo encoberto? Tornei o sentido oposto ao de Nadar que chegava a tentar a semelhança e até mesmo a espiritualidade dos indivíduos. Neste trabalho não se reconhece logo a face que está coberta de recortes diversos. Ternos urna metáfora viva. Estamos perante urna negação do semblante, o rosto torna-se num valor plástico, é o lugar da experiência.» Maria José Palla | Lisboa, 15.05.2012