Ilustrações originais de Ângelo de Sousa, Armando Alves, Jorge Pinheiro e José Rodrigues
Prefácio de António Borges Coelho
Direcção gráfica de Armando Alves
Com esta nova edição de As Mãos e o Espírito, texto de uma lição tão particularmente significativa na vida e na obra do seu autor, assinalamos o 90.º aniversário de Óscar Lopes, de cuja obra nos orgulhamos de ser editores.
«Neste texto tão claro, Óscar Lopes narra em palavras angulares a história da criação do Homem. Levanta-lhe as mãos do chão, alivia-lhe o peso da mandíbula para suster alta a cabeça e conta a história do diálogo entre as mãos e o espírito - pergunta, resposta aberta, pergunta -, através do sistema telegráfico dos onze sentidos se não forem mais. A mão multiusos e o espírito juntaram-se na invenção do fogo, da linguagem articulada "que permite agarrar as coisas mesmo quando lá não estão", na invenção da roda, do arado, da forja, do barco, da cidade. E o discurso segue pelo tempo fora surpreendendo em pincelada forte a luminosa, breve e perigosa história dos Humanos. Podemos imaginar o som e o gesto. A serenidade, a agudeza e a alegria da fala. Gerações e gerações ouviram esta voz na sala de aula, no espaço público ou no silêncio da leitura. Eu próprio, em 1947, fui a Vila Real pedir-lhe ajuda para os meus impulsos poéticos: mandou-me ler Fernando Pessoa. O tempo tudo consome. Surgiram dados novos. E o texto resiste não só pela mestria da forma como pelo corpo das ideias vazadas em palavras que procuram sempre a exactidão. O livro As Mãos e o Espírito foi impresso em 1958. Vivíamos sob a opressão interna e o céu de chumbo do chamado equilíbrio nuclear. Em 1957 Óscar Lopes integrara como partidário da paz os cinquenta e dois réus do chamado processo do MUD Juvenil, julgado pelo Tribunal Plenário do Porto. O julgamento arrastou-se durante meio ano, por vezes com três sessões diárias, de manhã, à tarde e à noite. No entanto, no texto que ireis ler, não há amargura ou desalento, mas a serenidade de uma consciência aberta para a entrega ao mundo. Para os noventa anos de Óscar Lopes deveria ouvir-se música, ainda que ele a não ouça, uma cantata de Bach ou de Prokofiev, uma sonata ou um quarteto de Beethoven, um lied, um trio de Schubert ou simplesmente uma qualquer página de Mozart. Fico-me por uma braçada de palavras que não se atrevem a descrever a grandeza desta figura singular.» António Borges Coelho
Ilustrações originais de Ângelo de Sousa, Armando Alves, Jorge Pinheiro e José Rodrigues
Prefácio de António Borges Coelho
Direcção gráfica de Armando Alves
Com esta nova edição de As Mãos e o Espírito, texto de uma lição tão particularmente significativa na vida e na obra do seu autor, assinalamos o 90.º aniversário de Óscar Lopes, de cuja obra nos orgulhamos de ser editores.
«Neste texto tão claro, Óscar Lopes narra em palavras angulares a história da criação do Homem. Levanta-lhe as mãos do chão, alivia-lhe o peso da mandíbula para suster alta a cabeça e conta a história do diálogo entre as mãos e o espírito - pergunta, resposta aberta, pergunta -, através do sistema telegráfico dos onze sentidos se não forem mais. A mão multiusos e o espírito juntaram-se na invenção do fogo, da linguagem articulada "que permite agarrar as coisas mesmo quando lá não estão", na invenção da roda, do arado, da forja, do barco, da cidade. E o discurso segue pelo tempo fora surpreendendo em pincelada forte a luminosa, breve e perigosa história dos Humanos. Podemos imaginar o som e o gesto. A serenidade, a agudeza e a alegria da fala. Gerações e gerações ouviram esta voz na sala de aula, no espaço público ou no silêncio da leitura. Eu próprio, em 1947, fui a Vila Real pedir-lhe ajuda para os meus impulsos poéticos: mandou-me ler Fernando Pessoa. O tempo tudo consome. Surgiram dados novos. E o texto resiste não só pela mestria da forma como pelo corpo das ideias vazadas em palavras que procuram sempre a exactidão. O livro As Mãos e o Espírito foi impresso em 1958. Vivíamos sob a opressão interna e o céu de chumbo do chamado equilíbrio nuclear. Em 1957 Óscar Lopes integrara como partidário da paz os cinquenta e dois réus do chamado processo do MUD Juvenil, julgado pelo Tribunal Plenário do Porto. O julgamento arrastou-se durante meio ano, por vezes com três sessões diárias, de manhã, à tarde e à noite. No entanto, no texto que ireis ler, não há amargura ou desalento, mas a serenidade de uma consciência aberta para a entrega ao mundo. Para os noventa anos de Óscar Lopes deveria ouvir-se música, ainda que ele a não ouça, uma cantata de Bach ou de Prokofiev, uma sonata ou um quarteto de Beethoven, um lied, um trio de Schubert ou simplesmente uma qualquer página de Mozart. Fico-me por uma braçada de palavras que não se atrevem a descrever a grandeza desta figura singular.» António Borges Coelho