Do convite de Eugenio d’Ors, director do Instituto de Estudos Catalães, a Teixeira de Pascoaes para a realização de um conjunto de conferências em Barcelona, resulta Os Poetas Lusitanos. Neste livro, Pascoaes romanceia sobre a história da poesia portuguesa, desde a sua “idade de oiro”, com D. Dinis, passando pelo período “marítimo ou henriquino”, “sebastianista” e “político” até aos dias de hoje, em que perdura ainda o período “neo-sebastianista”. Ao efabular sobre poesia, a arte que, para Pascoaes, nasceu da dança, o escritor interpreta Camões, Agostinho da Cruz e Bernadim Ribeiro, Guerra Junqueiro, António Nobre e Antero de Quental. "Quanto a sentidos menos lactos - ainda mais pobres - de simplicidade, não será mal prevenir para não remediar; João Vasconcelos, o sobrinho pintor que sucedeu ao poeta na ocupação da casa de Pascoaes, disse-me que, uma vez, ao fundo do corredor que dá para o escritório, o poeta de «Regresso ao Paraíso» lhe surgiu chispando fogo da cabeça. «Que idade tinha o João? Ainda era criança?», perguntei cauteloso. «Tinha vinte e dois anos» respondeu, acrescentando: «De outra vez foi nas terras. Um homem do campo, vendo passar meu tio que subia a encosta, exclamou: «Quém é aquele homem que deita fogo dos cabelos?». De outra vez, agora acrescento eu (mas cito de memória, sem poder dar o livro onde foi lido), um soldado alemão agonizando no campo de batalha deixa a um companheiro o seguinte recado: «Diz ao poeta Teixeira de Pascoaes que morri a pensar nele.» Tudo coisas simples, pois, com a simplicidade da guilhotina que cai e extirpa a vida e a do amplexo carnal que a obriga a comparecer no onde ela não estava, e tudo movido a sangue em aforismos tão terrivelmente clarividentes que podem tolher-te o passo para sempre: «A criança é a máscara do velho»."
Do convite de Eugenio d’Ors, director do Instituto de Estudos Catalães, a Teixeira de Pascoaes para a realização de um conjunto de conferências em Barcelona, resulta Os Poetas Lusitanos. Neste livro, Pascoaes romanceia sobre a história da poesia portuguesa, desde a sua “idade de oiro”, com D. Dinis, passando pelo período “marítimo ou henriquino”, “sebastianista” e “político” até aos dias de hoje, em que perdura ainda o período “neo-sebastianista”. Ao efabular sobre poesia, a arte que, para Pascoaes, nasceu da dança, o escritor interpreta Camões, Agostinho da Cruz e Bernadim Ribeiro, Guerra Junqueiro, António Nobre e Antero de Quental. "Quanto a sentidos menos lactos - ainda mais pobres - de simplicidade, não será mal prevenir para não remediar; João Vasconcelos, o sobrinho pintor que sucedeu ao poeta na ocupação da casa de Pascoaes, disse-me que, uma vez, ao fundo do corredor que dá para o escritório, o poeta de «Regresso ao Paraíso» lhe surgiu chispando fogo da cabeça. «Que idade tinha o João? Ainda era criança?», perguntei cauteloso. «Tinha vinte e dois anos» respondeu, acrescentando: «De outra vez foi nas terras. Um homem do campo, vendo passar meu tio que subia a encosta, exclamou: «Quém é aquele homem que deita fogo dos cabelos?». De outra vez, agora acrescento eu (mas cito de memória, sem poder dar o livro onde foi lido), um soldado alemão agonizando no campo de batalha deixa a um companheiro o seguinte recado: «Diz ao poeta Teixeira de Pascoaes que morri a pensar nele.» Tudo coisas simples, pois, com a simplicidade da guilhotina que cai e extirpa a vida e a do amplexo carnal que a obriga a comparecer no onde ela não estava, e tudo movido a sangue em aforismos tão terrivelmente clarividentes que podem tolher-te o passo para sempre: «A criança é a máscara do velho»."