Prefácio de Miguel Baptista Pereira
«Na tradição do ser como olhar, que, ao ver-se, vê especulativamente toda a realidade e numa realização-limite da ideia aristotélica de que só o olhar incolor vê todas as cores, o De Visione Dei tem de ser lido no duplo sentido de genitivo subjetivo e objetivo. No primeiro sentido, o ver é absoluto, infinito, reflexivo e envolvente, abarcando tudo e todos, permanente na mutabilidade das coisas vistas, criador, enquanto “complicatio” e “explicativo”, dos seres-imagem, força “complicativa e explicativa”, que une e separa, palavra, que é gerar e conceber, falar e criar. Ao contrário da Unidade de Proclo, a unidade do Olhar Absoluto ou da Visão de Deus, no sentido de genitivo subjetivo não exclui o múltiplo mas desenvolve projetos de mundo como explicitações do Ver Absoluto, que relativamente ao mundo é liberdade. No sentido do genitivo objetivo, o De Visione Dei é o ver finito e múltiplo, a contração limitativa e singularizada do Ver Absoluto, sempre presa do ângulo parcial de uma perspetiva e, portanto, conjetural e mutável. É a “explicatio” enquanto participação da pureza e simplicidade da “complicatio”, é um ver plural, que é ser visto pelo mesmo Olhar envolvente, é um olhar singular e coletivo, que jamais pode fugir à incidência do Ver Absoluto. O Ver invisível do Absoluto manifesta-se nas imagens teofânicas e, sobretudo, nos olhares finitos dos homens, que acende, criando. O Ver Absoluto, ao fundar a visão de si no ver criado, é por “complicatio” o próprio ser-visto pelo olhar do outro e se, uma vez fixado na pintura, parece mudar com as nossas mudanças e seguir-nos como sombra, nós é que somos as sombras vivas e as verdades mudadas e agitadas pelo desejo, enquanto Deus é a coincidência da sombra e da verdade, da imagem e do paradigma, como ensina o De Visione Dei. O encontro destes dois olhares no duplo sentido do genitivo objetivo e subjetivo é relação dialógica imagem-paradigma, pintura-pintor, livro-autor, espelho conjetural – espelho do Olhar Absoluto, iluminação-comunicação vinda do mais fundo da Luz, que é “muro” e noite.» (Do prefácio de Miguel Baptista Pereira)
Prefácio de Miguel Baptista Pereira
«Na tradição do ser como olhar, que, ao ver-se, vê especulativamente toda a realidade e numa realização-limite da ideia aristotélica de que só o olhar incolor vê todas as cores, o De Visione Dei tem de ser lido no duplo sentido de genitivo subjetivo e objetivo. No primeiro sentido, o ver é absoluto, infinito, reflexivo e envolvente, abarcando tudo e todos, permanente na mutabilidade das coisas vistas, criador, enquanto “complicatio” e “explicativo”, dos seres-imagem, força “complicativa e explicativa”, que une e separa, palavra, que é gerar e conceber, falar e criar. Ao contrário da Unidade de Proclo, a unidade do Olhar Absoluto ou da Visão de Deus, no sentido de genitivo subjetivo não exclui o múltiplo mas desenvolve projetos de mundo como explicitações do Ver Absoluto, que relativamente ao mundo é liberdade. No sentido do genitivo objetivo, o De Visione Dei é o ver finito e múltiplo, a contração limitativa e singularizada do Ver Absoluto, sempre presa do ângulo parcial de uma perspetiva e, portanto, conjetural e mutável. É a “explicatio” enquanto participação da pureza e simplicidade da “complicatio”, é um ver plural, que é ser visto pelo mesmo Olhar envolvente, é um olhar singular e coletivo, que jamais pode fugir à incidência do Ver Absoluto. O Ver invisível do Absoluto manifesta-se nas imagens teofânicas e, sobretudo, nos olhares finitos dos homens, que acende, criando. O Ver Absoluto, ao fundar a visão de si no ver criado, é por “complicatio” o próprio ser-visto pelo olhar do outro e se, uma vez fixado na pintura, parece mudar com as nossas mudanças e seguir-nos como sombra, nós é que somos as sombras vivas e as verdades mudadas e agitadas pelo desejo, enquanto Deus é a coincidência da sombra e da verdade, da imagem e do paradigma, como ensina o De Visione Dei. O encontro destes dois olhares no duplo sentido do genitivo objetivo e subjetivo é relação dialógica imagem-paradigma, pintura-pintor, livro-autor, espelho conjetural – espelho do Olhar Absoluto, iluminação-comunicação vinda do mais fundo da Luz, que é “muro” e noite.» (Do prefácio de Miguel Baptista Pereira)