«Louis Althusser nasceu em 1918 em Birmandreis, na Argélia, tendo falecido em Outubro de 1990 no instituto psiquiátrico de La Verrière, cidade da região parisiense. Escreveu diversos livros, que lhe granjearam notoriedade e admiração em todo o mundo. Militou desde os anos 40 no Partido Comunista Francês, onde conheceu horas de entusiasmo mas sobretudo de solidão, amargura e desespero. Em Novembro de 1980, num acesso de loucura (era maníaco-depressivo, com crises de melancolia aguda), estrangulou sua esposa Hélène Rhytmann, com quem partilhava um apartamento na École Normale, à rua de Ulm em Paris, onde exercia actividade docente há mais de trinta anos. Ficou conhecido como um filósofo e teórico marxista intelectualmente arrojado e elegante, com uma ponta de rigidez provocadora e ferina no seu staccato argumentativo. Não menos real para mim é a sua imagem de poeta e místico heresiarca. Activista católico na sua juventude («La bonne nouvelle est-elle annoncé aux hommes d’aujourd’hui?»), Althusser era um ser frágil, perseguido por uma exigência absoluta de utopia, serenidade e beleza. A grande paz. A alegria partilhada. Enquanto observo algumas fotografias suas, move-me ainda compulsivamente um profundo temor por esses luz e mistério para sempre encerados nesta vida. Pelas sendas de um pensamento trágico e dilacerado, procurou ele incansavelmente (por vezes com ferocidade, quantas vezes cedendo à vertigem do ódio e horror de si próprio) uma via de salvação para o homem concreto seu próximo, mergulhando por fim no desespero de um sofrimento atroz, prolongado, final e desamparado. Era dos melhores de nós. Um irmão? Não sendo eu, em nenhum sentido, um homem religioso, não saberei possivelmente nunca valorizar esta perturbadora impressão, a qual todavia, pela sua intensidade, não poderia deixar de ser a promeira aqui expressa.» in O Comuneiro
«Louis Althusser nasceu em 1918 em Birmandreis, na Argélia, tendo falecido em Outubro de 1990 no instituto psiquiátrico de La Verrière, cidade da região parisiense. Escreveu diversos livros, que lhe granjearam notoriedade e admiração em todo o mundo. Militou desde os anos 40 no Partido Comunista Francês, onde conheceu horas de entusiasmo mas sobretudo de solidão, amargura e desespero. Em Novembro de 1980, num acesso de loucura (era maníaco-depressivo, com crises de melancolia aguda), estrangulou sua esposa Hélène Rhytmann, com quem partilhava um apartamento na École Normale, à rua de Ulm em Paris, onde exercia actividade docente há mais de trinta anos. Ficou conhecido como um filósofo e teórico marxista intelectualmente arrojado e elegante, com uma ponta de rigidez provocadora e ferina no seu staccato argumentativo. Não menos real para mim é a sua imagem de poeta e místico heresiarca. Activista católico na sua juventude («La bonne nouvelle est-elle annoncé aux hommes d’aujourd’hui?»), Althusser era um ser frágil, perseguido por uma exigência absoluta de utopia, serenidade e beleza. A grande paz. A alegria partilhada. Enquanto observo algumas fotografias suas, move-me ainda compulsivamente um profundo temor por esses luz e mistério para sempre encerados nesta vida. Pelas sendas de um pensamento trágico e dilacerado, procurou ele incansavelmente (por vezes com ferocidade, quantas vezes cedendo à vertigem do ódio e horror de si próprio) uma via de salvação para o homem concreto seu próximo, mergulhando por fim no desespero de um sofrimento atroz, prolongado, final e desamparado. Era dos melhores de nós. Um irmão? Não sendo eu, em nenhum sentido, um homem religioso, não saberei possivelmente nunca valorizar esta perturbadora impressão, a qual todavia, pela sua intensidade, não poderia deixar de ser a promeira aqui expressa.» in O Comuneiro