Memórias tangíveis da capital do estado português da Índia
“(…) a história de Goa não começou com a chegada dos Portugueses; a cidade tinha um passado rico e com algumas épocas de brilho, documentadas quer nas fontes orientais quer nas portuguesas, e também testemunháveis por vestígios arqueológicos. O mesmo se diga dos territórios de Salcete e Bardês, e também das chamas Novas Conquistas, incorporadas em pleno século XVIII. No século II da nossa Era, de quando datam as mais recuadas informações credíveis, a cidade ainda não era a mais importante da região, estando nessa altura, no tempo de domínio dos Bohojas, que governaram entre os séculos III e VI como feudatários dos imperadores Mauryas de Ptaliputra, no Norte da Índia, a capital era a actual vila de Chandor. Foi então que o Budismo foi introduzido no futuro território português, conservando-se algumas grutas com testemunhos desses tempos, como em Aravalém e Rivona. O declínio desta corrente e a emergência do Hinduísmo, com o predomínio da seita Shivaita, fez desaparecer estes santuários, usados a partir de então pela nova crença, construindo outros rupestres, como em Khandepar, na província de Pondá, e os templos de Divar, Chandranath, Bandorá, etc… Mas Goa e a região envolvente não conheceram a paz por muito tempo. No século VII estava nas mãos dos Chalukyas de Badami, e integrada na província de Revatidvipa. Depois sucederam-lhes os Rashtrakutas, cerca de 753, cujo domínio se estendeu até 973. Período mais estável foi o seguinte, quando ficou cerca de cinco séculos sob a suserania dos Kadambas. Inicialmente com Shastadeva I a capital estava em Chandrapur, mas o rei seguinte, Jayakeshi, que conquistou todo o Concão, estabeleceu-se perto da cidade, em Goa-Velha, hoje uma pequena aldeia da Ilha de Tiswadi, então designada Gopakapattana. Foi um período em que se iniciaram contactos comerciais com terras distantes, com Zanzibar, o Guzarate, o Ceilão e Bengala. A Corte era budista, e só no século XII, com a pressão dos Lingayatas, é que o budismo e o jainismo foram relegados para um segundo plano. Em 1311 Goa-a-Velha foi atacada pelos senhores de Delhi, ocorrendo novo assédio em 1327, altura em que se deram as primeiras destruições de templos hindus, como o que era dedicado a Shiva, e que estava localizado onde hoje está a igreja de Nossa Senhora da Piedade de Divar. De 1336 até 1470, o território ficou sob dominação de Vijayanagar, e foi anexada à província de Junnar. Depois o sultanado de Bahamani desintegrou-se, e Bijapur tomou conta da região, estabelecendo o poder regional em Goa, a nossa Velha-Goa, então designada por Ela, e que não se pode confundir com Goa-a-Velha, que já referimos várias vezes. Foi ao sultão de Bijapur, Yusuf Adil Khan, o Idalcão das nossas crónicas, que Afonso de Albuquerque conquistou a cidade e a Ilha de Tiswadi, em 1510. Tomé Pires, na Suma Oriental, escrita por 1512 ou 1513, dá-nos uma imagem da cidade que é fundamentalmente a da Goa pré-portuguesa, relevando a sua importância política e económica, o seu papel como centro comercial e as relações que mantinha com o Golfo Pérsico e com outros reinos hindustânicos. Era aos seus olhos uma presa apetecível para a nascente talassocracia lusa. Manifestava já a ideia de que era um lugar estratégico, com dois braços de mar, na verdade dois rios, a transformá-la numa ilha defensável. Os seus produtos agrícolas, do arroz ao betel, eram da melhor qualidade.”
Memórias tangíveis da capital do estado português da Índia
“(…) a história de Goa não começou com a chegada dos Portugueses; a cidade tinha um passado rico e com algumas épocas de brilho, documentadas quer nas fontes orientais quer nas portuguesas, e também testemunháveis por vestígios arqueológicos. O mesmo se diga dos territórios de Salcete e Bardês, e também das chamas Novas Conquistas, incorporadas em pleno século XVIII. No século II da nossa Era, de quando datam as mais recuadas informações credíveis, a cidade ainda não era a mais importante da região, estando nessa altura, no tempo de domínio dos Bohojas, que governaram entre os séculos III e VI como feudatários dos imperadores Mauryas de Ptaliputra, no Norte da Índia, a capital era a actual vila de Chandor. Foi então que o Budismo foi introduzido no futuro território português, conservando-se algumas grutas com testemunhos desses tempos, como em Aravalém e Rivona. O declínio desta corrente e a emergência do Hinduísmo, com o predomínio da seita Shivaita, fez desaparecer estes santuários, usados a partir de então pela nova crença, construindo outros rupestres, como em Khandepar, na província de Pondá, e os templos de Divar, Chandranath, Bandorá, etc… Mas Goa e a região envolvente não conheceram a paz por muito tempo. No século VII estava nas mãos dos Chalukyas de Badami, e integrada na província de Revatidvipa. Depois sucederam-lhes os Rashtrakutas, cerca de 753, cujo domínio se estendeu até 973. Período mais estável foi o seguinte, quando ficou cerca de cinco séculos sob a suserania dos Kadambas. Inicialmente com Shastadeva I a capital estava em Chandrapur, mas o rei seguinte, Jayakeshi, que conquistou todo o Concão, estabeleceu-se perto da cidade, em Goa-Velha, hoje uma pequena aldeia da Ilha de Tiswadi, então designada Gopakapattana. Foi um período em que se iniciaram contactos comerciais com terras distantes, com Zanzibar, o Guzarate, o Ceilão e Bengala. A Corte era budista, e só no século XII, com a pressão dos Lingayatas, é que o budismo e o jainismo foram relegados para um segundo plano. Em 1311 Goa-a-Velha foi atacada pelos senhores de Delhi, ocorrendo novo assédio em 1327, altura em que se deram as primeiras destruições de templos hindus, como o que era dedicado a Shiva, e que estava localizado onde hoje está a igreja de Nossa Senhora da Piedade de Divar. De 1336 até 1470, o território ficou sob dominação de Vijayanagar, e foi anexada à província de Junnar. Depois o sultanado de Bahamani desintegrou-se, e Bijapur tomou conta da região, estabelecendo o poder regional em Goa, a nossa Velha-Goa, então designada por Ela, e que não se pode confundir com Goa-a-Velha, que já referimos várias vezes. Foi ao sultão de Bijapur, Yusuf Adil Khan, o Idalcão das nossas crónicas, que Afonso de Albuquerque conquistou a cidade e a Ilha de Tiswadi, em 1510. Tomé Pires, na Suma Oriental, escrita por 1512 ou 1513, dá-nos uma imagem da cidade que é fundamentalmente a da Goa pré-portuguesa, relevando a sua importância política e económica, o seu papel como centro comercial e as relações que mantinha com o Golfo Pérsico e com outros reinos hindustânicos. Era aos seus olhos uma presa apetecível para a nascente talassocracia lusa. Manifestava já a ideia de que era um lugar estratégico, com dois braços de mar, na verdade dois rios, a transformá-la numa ilha defensável. Os seus produtos agrícolas, do arroz ao betel, eram da melhor qualidade.”