A indústria é um lugar privilegiado de estudo de uma formação social em que é dominante o modo de produção capitalista. Com efeito, é, historicamente, a entrada maciça do capital na produção industrial que marca o início do processo que conduz ao seu domínio (do capital) sobre todos os outros sectores e ao poder político da burguesia: a indústria vai constituir a base de acumulação e o constante fermento da luta de classes. Entre nós tal processo encontra-se concluído, o que de nenhum modo significa que Portugal seja um pais plenamente “industrializado”. Numerosos factores levaram a que a burguesia portuguesa permanecesse semi-atrofiada e se debatesse ainda, no último terço do século XX, sobre a orientação política que melhor considaria os seus interesses a longo prazo, inibida por fantasmas ideológicos persistentes que a impediam de assumir, no quadro do capitalismo mundial, a situação de dependência que fatalmente lhe cabe. Daí a importância de, antes de prócer a uma análise sobre a indústria portuguesa, nos debruçarmos sobre as “condicionantes ideológicas” que têm vindo a determinar as várias formas de abordar tais questões. João Martins Pereira (Lisboa, 24 de Novembro de 1932 — Lisboa, 13 de Novembro de 2008) foi um engenheiro industrial, economista, jornalista, ensaísta e político português. Entre Março e Agosto de 1975 foi secretário de Estado da Indústria e Tecnologia do IV Governo Provisório, presidido por Vasco Gonçalves, no ministério da Indústria e Tecnologia, tutelado por João Cravinho, e foi o autor da nacionalização das grandes empresas industriais: siderurgia, cimentos, estaleiros navais, química pesada, petroquímica e celuloses.
Nota Prévia: «A versão original deste trabalho entrou na tipografia no dia 22 de Abril de 1974. Bastaram três dias — os três últimos do regime fascista — para que ele se tornasse simplesmente impublicável. Se os capítulos intermédios, constituindo uma análise da estrutura industrial portuguesa, mantinham total actualidade, já os capítulos I e V, que buscavam enquadrar essa análise no político, no ideológico e no quotidiano, se revelavam agora consideravelmente desajustados a novas situações. Adoptei, contudo, soluções distintas num caso e noutro. Quanto ao Capítulo I — «Indústria e ideologia» — introduzi-lhe substanciais alterações, aproveitando embora largas passagens do texto inicial. No que respeita ao Capítulo V — « O político, o económico e o quotidiano» — achei preferível conservar-lhe por inteiro a forma original, fazendo-o preceder de um texto justificativo. Com efeito, pareceu, neste caso, que, ao elucidar questões que têm que ver imediatamente com a experiência quotidiana de cada um, será de particular fecundidade a comparação que se possa fazer entre o «antes» e o «depois» de 25 de Abril. Esse texto, aliás, contém sobretudo um «método de análise» do quotidiano; tal método mantém a sua rigorosa validade, sejam quais forem as circunstâncias.»
A indústria é um lugar privilegiado de estudo de uma formação social em que é dominante o modo de produção capitalista. Com efeito, é, historicamente, a entrada maciça do capital na produção industrial que marca o início do processo que conduz ao seu domínio (do capital) sobre todos os outros sectores e ao poder político da burguesia: a indústria vai constituir a base de acumulação e o constante fermento da luta de classes. Entre nós tal processo encontra-se concluído, o que de nenhum modo significa que Portugal seja um pais plenamente “industrializado”. Numerosos factores levaram a que a burguesia portuguesa permanecesse semi-atrofiada e se debatesse ainda, no último terço do século XX, sobre a orientação política que melhor considaria os seus interesses a longo prazo, inibida por fantasmas ideológicos persistentes que a impediam de assumir, no quadro do capitalismo mundial, a situação de dependência que fatalmente lhe cabe. Daí a importância de, antes de prócer a uma análise sobre a indústria portuguesa, nos debruçarmos sobre as “condicionantes ideológicas” que têm vindo a determinar as várias formas de abordar tais questões. João Martins Pereira (Lisboa, 24 de Novembro de 1932 — Lisboa, 13 de Novembro de 2008) foi um engenheiro industrial, economista, jornalista, ensaísta e político português. Entre Março e Agosto de 1975 foi secretário de Estado da Indústria e Tecnologia do IV Governo Provisório, presidido por Vasco Gonçalves, no ministério da Indústria e Tecnologia, tutelado por João Cravinho, e foi o autor da nacionalização das grandes empresas industriais: siderurgia, cimentos, estaleiros navais, química pesada, petroquímica e celuloses.
Nota Prévia: «A versão original deste trabalho entrou na tipografia no dia 22 de Abril de 1974. Bastaram três dias — os três últimos do regime fascista — para que ele se tornasse simplesmente impublicável. Se os capítulos intermédios, constituindo uma análise da estrutura industrial portuguesa, mantinham total actualidade, já os capítulos I e V, que buscavam enquadrar essa análise no político, no ideológico e no quotidiano, se revelavam agora consideravelmente desajustados a novas situações. Adoptei, contudo, soluções distintas num caso e noutro. Quanto ao Capítulo I — «Indústria e ideologia» — introduzi-lhe substanciais alterações, aproveitando embora largas passagens do texto inicial. No que respeita ao Capítulo V — « O político, o económico e o quotidiano» — achei preferível conservar-lhe por inteiro a forma original, fazendo-o preceder de um texto justificativo. Com efeito, pareceu, neste caso, que, ao elucidar questões que têm que ver imediatamente com a experiência quotidiana de cada um, será de particular fecundidade a comparação que se possa fazer entre o «antes» e o «depois» de 25 de Abril. Esse texto, aliás, contém sobretudo um «método de análise» do quotidiano; tal método mantém a sua rigorosa validade, sejam quais forem as circunstâncias.»