• 967 224 138 *
  • Contactos

O Mosteiro dos Jerónimos – 2 volumes

LT009667
1989; 1991
José da Felicidade Alves

Editora Livros Horizonte
Idioma Português PT
Estado : Usado 5/5
Encadernação : Brochado
Disponib. - Indisponível

€30
Mais detalhes
  • Ano
  • 1989; 1991
  • Colecção
  • Cidade de Lisboa
  • Código
  • LT009667
  • Detalhes físicos
  • Dimensões
  • 14,00 x 21,00 x
  • Nº Páginas
  • 180 + 317

Descrição

Felicidade Alves, entrado no seminário com 11 anos, ali viveu 12 anos como seminarista, seguidos de 8 como professor, o que o fez chegar aos 30 anos sem saber nada da vida política e social. Para me tornar mais evidente essa ignorância, explicou que só no seu 2º ano de Teologia, em 1945/46, conseguiram finalmente ter acesso a um jornal: E acrescentou: «Mas era o Novidades, e só podíamos ler durante o recreio. Aluno que fosse apanhado com rádio era expulso do seminário!». Prior na paróquia de Belém, toma consciência de que há um mundo à sua volta: «Veio um grupo de pessoas da União Nacional à sacristia reclamar que lhes dissesse em quem ia votar. E eu, que se calhar se não me dissessem nada votava no Américo Tomás, perante aquela impertinência, disse: “Vou votar no Humberto.” “No Delgado? Porquê?” “Acho bonito, depois de uma Berta - a mulher do Craveiro - vir um Humberto.” Levei para a chacota. “O senhor está a brincar! Mas nós queremos saber em quem vota!” “No Arlindo. Então não fica bem um ar lindo em Belém?” “Queremos saber em quem o senhor vai votar!” E eu disse: “Em quem vou votar? Naquele que a minha consciência indicar.” E aí tomei consciência de que era livre. “Mas o senhor vai connosco!” Cercaram-me e, depois da missa do meio-dia, levaram-me à Junta de Freguesia para eu votar. Era uma fantasia da parte deles, porque o voto era secreto. E eles convenceram-se que, como ia com eles, ia votar no candidato deles - e eu votei em quem muito bem entendi. Mas isso levou-me a um certo distanciamento em relação a essas pessoas.» Entretanto, a Igreja vivia um grande movimento de renovação com o Papa João XXII. Felicidade Alves sentia uma enorme esperança: «O optimismo do Papa, a manifesta convicção que ele tinha da verdade, a ausência de medo em encarar a verdade, a confiança que tinha na inteligência humana, aceitando o desafio da inteligência humana, foi uma esperança tão grande que entrámos em ebulição. Acreditei, como muitos outros, que a Igreja, enquistada há muitas gerações, desde o Concílio de Trento, a luta contra Lutero e contra os protestantes, ia finalmente retomar o dinamismo que lhe é próprio. Eu tinha entrado na Igreja por uma opção cega, tinha um amor cego à Igreja. Acreditava nela como um mistério autêntico, verdadeiro, mas transracional, vivia para ela e para a servir. A conjugação desta disposição subjectiva de amor, confiança e dedicação à Igreja com o optimismo do Papa levou a que eu pensasse: “Chegou a hora de vivermos intensamente o momento presente.” Isto depois transbordou para a vida política. Foram as eleições de Humberto Delgado que me acordaram, porque me queriam comprometer com o regime. E dei-me conta de que não estava com o regime, embora não soubesse porquê. Mas alheei-me ainda mais pela insistência, a impertinência com que me queriam comprometer. E nesse momento decidi não votar no candidato do Governo e votei no outro. Depois deu-se o assassinato - ou a morte, não sei se foi assassinato se foi morte por acidente - do subsecretário do Exército, na intentona de Beja. Era meu paroquiano. Havia uma certa afeição por um paroquiano que morreu, portanto, fui fazer-lhe o funeral e senti, com a família, a morte de um homem que era cristão e meu paroquiano. Mas isso levou-me a tomar conhecimento de uma efervescência que havia no país e se traduzira daquela maneira.» Casou-se em 1970. Os padres que assistiram foram suspensos: «Eu e a minha mulher fomos excomungados. Para as outras penas - suspensão e exoneração - não sei a razão. Há uma carta em que o patriarca diz que “do padre Felicidade nada restará”. Mas gostava de saber qual era a acusação. Porque eu vivi muito seriamente para a Igreja e, nessa altura, parecia estar a surgir aquela Igreja que tínhamos imaginado. O celibato nunca me custou. Mas no dia em que fui suspenso, deixou de haver razão para o celibato. O que mais desejaria era a revisão. Nós vivemos aquele momento com o João XXIII que foi um momento muito bonito. Houve um grupo de padres que viveu com grande entusiasmo. Depois foi destruído pelos capelães militares, as aulas de Moral.»

O Mosteiro dos Jerónimos – 2 volumes

€30

LT009667
1989; 1991
José da Felicidade Alves
Editora Livros Horizonte
Idioma Português PT
Estado : Usado 5/5
Encadernação : Brochado
Disponib. - Indisponível

Mais detalhes
  • Ano
  • 1989; 1991
  • Colecção
  • Cidade de Lisboa
  • Código
  • LT009667
  • Detalhes físicos

  • Dimensões
  • 14,00 x 21,00 x
  • Nº Páginas
  • 180 + 317
Descrição

Felicidade Alves, entrado no seminário com 11 anos, ali viveu 12 anos como seminarista, seguidos de 8 como professor, o que o fez chegar aos 30 anos sem saber nada da vida política e social. Para me tornar mais evidente essa ignorância, explicou que só no seu 2º ano de Teologia, em 1945/46, conseguiram finalmente ter acesso a um jornal: E acrescentou: «Mas era o Novidades, e só podíamos ler durante o recreio. Aluno que fosse apanhado com rádio era expulso do seminário!». Prior na paróquia de Belém, toma consciência de que há um mundo à sua volta: «Veio um grupo de pessoas da União Nacional à sacristia reclamar que lhes dissesse em quem ia votar. E eu, que se calhar se não me dissessem nada votava no Américo Tomás, perante aquela impertinência, disse: “Vou votar no Humberto.” “No Delgado? Porquê?” “Acho bonito, depois de uma Berta - a mulher do Craveiro - vir um Humberto.” Levei para a chacota. “O senhor está a brincar! Mas nós queremos saber em quem vota!” “No Arlindo. Então não fica bem um ar lindo em Belém?” “Queremos saber em quem o senhor vai votar!” E eu disse: “Em quem vou votar? Naquele que a minha consciência indicar.” E aí tomei consciência de que era livre. “Mas o senhor vai connosco!” Cercaram-me e, depois da missa do meio-dia, levaram-me à Junta de Freguesia para eu votar. Era uma fantasia da parte deles, porque o voto era secreto. E eles convenceram-se que, como ia com eles, ia votar no candidato deles - e eu votei em quem muito bem entendi. Mas isso levou-me a um certo distanciamento em relação a essas pessoas.» Entretanto, a Igreja vivia um grande movimento de renovação com o Papa João XXII. Felicidade Alves sentia uma enorme esperança: «O optimismo do Papa, a manifesta convicção que ele tinha da verdade, a ausência de medo em encarar a verdade, a confiança que tinha na inteligência humana, aceitando o desafio da inteligência humana, foi uma esperança tão grande que entrámos em ebulição. Acreditei, como muitos outros, que a Igreja, enquistada há muitas gerações, desde o Concílio de Trento, a luta contra Lutero e contra os protestantes, ia finalmente retomar o dinamismo que lhe é próprio. Eu tinha entrado na Igreja por uma opção cega, tinha um amor cego à Igreja. Acreditava nela como um mistério autêntico, verdadeiro, mas transracional, vivia para ela e para a servir. A conjugação desta disposição subjectiva de amor, confiança e dedicação à Igreja com o optimismo do Papa levou a que eu pensasse: “Chegou a hora de vivermos intensamente o momento presente.” Isto depois transbordou para a vida política. Foram as eleições de Humberto Delgado que me acordaram, porque me queriam comprometer com o regime. E dei-me conta de que não estava com o regime, embora não soubesse porquê. Mas alheei-me ainda mais pela insistência, a impertinência com que me queriam comprometer. E nesse momento decidi não votar no candidato do Governo e votei no outro. Depois deu-se o assassinato - ou a morte, não sei se foi assassinato se foi morte por acidente - do subsecretário do Exército, na intentona de Beja. Era meu paroquiano. Havia uma certa afeição por um paroquiano que morreu, portanto, fui fazer-lhe o funeral e senti, com a família, a morte de um homem que era cristão e meu paroquiano. Mas isso levou-me a tomar conhecimento de uma efervescência que havia no país e se traduzira daquela maneira.» Casou-se em 1970. Os padres que assistiram foram suspensos: «Eu e a minha mulher fomos excomungados. Para as outras penas - suspensão e exoneração - não sei a razão. Há uma carta em que o patriarca diz que “do padre Felicidade nada restará”. Mas gostava de saber qual era a acusação. Porque eu vivi muito seriamente para a Igreja e, nessa altura, parecia estar a surgir aquela Igreja que tínhamos imaginado. O celibato nunca me custou. Mas no dia em que fui suspenso, deixou de haver razão para o celibato. O que mais desejaria era a revisão. Nós vivemos aquele momento com o João XXIII que foi um momento muito bonito. Houve um grupo de padres que viveu com grande entusiasmo. Depois foi destruído pelos capelães militares, as aulas de Moral.»