Publicado com: Manuel Bocarro Francês e o Tratado dos cometas de 1618, por Henrique Leitão
Entre a vasta literatura suscitada pela passagem de três cometas no ano de 1618, destaca-se este pequeno livro do médico, astrólogo e sebastianista judeu Manuel Bocarro Francês [Jacob Rosales] (ca. 1593-1662). Diferentemente de quase todos os outros textos e opúsculos que então se publicaram no nosso país, o livro de Bocarro, sob clara influência de correntes estóicas, propõe uma explicação acerca da natureza desses cometas que se afasta da versão aristotélica. Bocarro questiona não apenas o que diz respeito aos cometas, mas lança uma crítica mais ampla à tradicional descrição da região celeste, crítica que, como informa, tinha articulado numa obra própria que esperava dar aos prelos rapidamente.
O Tratado dos Cometas de Bocarro testemunha, portanto, a existência e circulação de correntes intelectuais não aristotélicas em Portugal e o seu surgimento aquando dos debates cosmológicos das primeiras décadas do século XVII. Manuel Bocarro Francês é uma complexa e interessante figura de meados do século dezassete. Nasceu em Lisboa por volta de 1593 e frequentou o colégio jesuíta de Santo Antão, tendo prosseguido os seus estudos em Espanha, nas universidades de Alcalá de Henares e Seguenza. Regressado a Lisboa, em 1618 observou os cometas desse ano, preparando o Tratado dos Cometas. Embora praticasse medicina desde que viera de Espanha, só em 1620 recebeu autorização oficial para o fazer. Os seus interesses, contudo, eram mais amplos. Bocarro foi conhecido no seu tempo sobretudo pelas suas ligações aos movimentos sebastianistas em Portugal, o que se tornou público a partir de 1624, com a publicação do Anacephaleoses da Monarchia Luzitana, uma obra abertamente sebastianista na qual, com argumentos astrológicos, provava o futuro messiânico do país. Esta publicação desagradou às autoridades espanholas e obrigou-o a fugir de Portugal. Em 1626 publicou em Roma um pequeno opúsculo astrológico e de profetismo político, intitulado Luz pequena lunar e estelífera da Monarchia Luzitana, que tem o interesse de vir prefaciado por Galileu. A partir desses anos, a sua vida é passada sobretudo em Hamburgo, onde veio a adquirir renome como médico, e, a partir de 1650, em Itália, onde veio a falecer, em 1662.
Publicado com: Manuel Bocarro Francês e o Tratado dos cometas de 1618, por Henrique Leitão
Entre a vasta literatura suscitada pela passagem de três cometas no ano de 1618, destaca-se este pequeno livro do médico, astrólogo e sebastianista judeu Manuel Bocarro Francês [Jacob Rosales] (ca. 1593-1662). Diferentemente de quase todos os outros textos e opúsculos que então se publicaram no nosso país, o livro de Bocarro, sob clara influência de correntes estóicas, propõe uma explicação acerca da natureza desses cometas que se afasta da versão aristotélica. Bocarro questiona não apenas o que diz respeito aos cometas, mas lança uma crítica mais ampla à tradicional descrição da região celeste, crítica que, como informa, tinha articulado numa obra própria que esperava dar aos prelos rapidamente.
O Tratado dos Cometas de Bocarro testemunha, portanto, a existência e circulação de correntes intelectuais não aristotélicas em Portugal e o seu surgimento aquando dos debates cosmológicos das primeiras décadas do século XVII. Manuel Bocarro Francês é uma complexa e interessante figura de meados do século dezassete. Nasceu em Lisboa por volta de 1593 e frequentou o colégio jesuíta de Santo Antão, tendo prosseguido os seus estudos em Espanha, nas universidades de Alcalá de Henares e Seguenza. Regressado a Lisboa, em 1618 observou os cometas desse ano, preparando o Tratado dos Cometas. Embora praticasse medicina desde que viera de Espanha, só em 1620 recebeu autorização oficial para o fazer. Os seus interesses, contudo, eram mais amplos. Bocarro foi conhecido no seu tempo sobretudo pelas suas ligações aos movimentos sebastianistas em Portugal, o que se tornou público a partir de 1624, com a publicação do Anacephaleoses da Monarchia Luzitana, uma obra abertamente sebastianista na qual, com argumentos astrológicos, provava o futuro messiânico do país. Esta publicação desagradou às autoridades espanholas e obrigou-o a fugir de Portugal. Em 1626 publicou em Roma um pequeno opúsculo astrológico e de profetismo político, intitulado Luz pequena lunar e estelífera da Monarchia Luzitana, que tem o interesse de vir prefaciado por Galileu. A partir desses anos, a sua vida é passada sobretudo em Hamburgo, onde veio a adquirir renome como médico, e, a partir de 1650, em Itália, onde veio a falecer, em 1662.