Neste livro - cujo título pretende evocar Antero - procura-se contribuir para uma reflexão ideológica que ajude a romper com o conservadorismo blasé - ou talvez seja mais correcto dizer in -, por vezes mascarado de "terceira via", pretensamente impregnado de bom senso liberal e de realismo. Não sem cinismo, esse conservadorismo insinua ou afirma que quem não se conforma com o statu quo mercantil e a desordem por ele gerada, pretende instaurar utopias providenciais e totalitárias, sendo portanto preferível uma ilusão de liberdade, segregada pela ideologia dominante, a uma liberdade substantiva considerada inatingível. É necessário encontrar novas vias para a reforma radical do modelo de sociedade e de economia que se impôs nos países desenvolvidos, à custa do atraso, da pobreza e até da guerra em que vivem os demais. Trata-se de uma questão de sobrevivência - de sobrevivência da democracia, de valores civilizacionais e morais, mas também da própria espécie humana. Por isso é preciso retomar o facho de lutas passadas; desmontar as mistificações ideológicas e políticas com que os senhores do mundo justificam a sua dominação; denunciar o cinismo e a hipocrisia dos que vivem no imediato, na e para a embriaguez da riqueza e do poder que detêm; despertar as pessoas da sua inconsciência e da sua cegueira, fascinadas como estão pelos objectos e pelo espectáculo do consumismo.