Medo e entusiasmo, sim, é disso que devia tratar-se, das sensações em catadupa do autor pouco tempo antes do seu desaparecimento, pouco antes de passar as suas ideias para o papel.» É desta ameaça de autodissolução que nos fala Botho Strauss nesta obra publicada pela primeira vez em 1975. Nela é tematizado o labor do escritor que se auto-interroga num mundo sufocante e frio no qual «a única coisa que ainda é sonora é ele próprio». Mas esta sonoridade interior do Eu, como derradeiro ponto de referência, revela que também ele é instável e incapaz de destrinçar dentro de si os domínios da memória, da realidade e da sua própria identidade. Dissolução da personalidade, impotência em face da criação genuína, levam o autor a um questionamento e a uma dúvida incessantes que quebram todas as formas estabelecidas da percepção do mundo e estilhaçam o alinhamento tradicional do enredo em fragmentos cénicos de um «teatro mental». A este estado de espírito – aqui motivado pela separação do ente querido e amado – apenas o acto da escrita, que o autor encara como um «acontecimento instintivo, primário» e como «dimensão autónoma entre amar e matar», resta como ponto de referência. Mas mesmo esse confina-se a um monólogo em que o escritor se dissipa na sua própria escrita e a reconhece apenas como «estação de passagem de toda a literatura possível». Escorraçado também desta última instância decide-se por um voo até ao seu passado, durante o qual se abandona definitivamente ao processo de dissolução cujo resultado – a identificação com a sua amada – finalmente o tranquiliza. Mas o destino desta viagem deixa-nos pressentir o carácter ilusório deste final tranquilo.
Medo e entusiasmo, sim, é disso que devia tratar-se, das sensações em catadupa do autor pouco tempo antes do seu desaparecimento, pouco antes de passar as suas ideias para o papel.» É desta ameaça de autodissolução que nos fala Botho Strauss nesta obra publicada pela primeira vez em 1975. Nela é tematizado o labor do escritor que se auto-interroga num mundo sufocante e frio no qual «a única coisa que ainda é sonora é ele próprio». Mas esta sonoridade interior do Eu, como derradeiro ponto de referência, revela que também ele é instável e incapaz de destrinçar dentro de si os domínios da memória, da realidade e da sua própria identidade. Dissolução da personalidade, impotência em face da criação genuína, levam o autor a um questionamento e a uma dúvida incessantes que quebram todas as formas estabelecidas da percepção do mundo e estilhaçam o alinhamento tradicional do enredo em fragmentos cénicos de um «teatro mental». A este estado de espírito – aqui motivado pela separação do ente querido e amado – apenas o acto da escrita, que o autor encara como um «acontecimento instintivo, primário» e como «dimensão autónoma entre amar e matar», resta como ponto de referência. Mas mesmo esse confina-se a um monólogo em que o escritor se dissipa na sua própria escrita e a reconhece apenas como «estação de passagem de toda a literatura possível». Escorraçado também desta última instância decide-se por um voo até ao seu passado, durante o qual se abandona definitivamente ao processo de dissolução cujo resultado – a identificação com a sua amada – finalmente o tranquiliza. Mas o destino desta viagem deixa-nos pressentir o carácter ilusório deste final tranquilo.