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António dos olhos tristes xx

LT009443
1980
Eduardo Olímpio

Editora Didáctica
Idioma Português PT
Estado : Usado 4/5
Encadernação : Brochado
Disponib. - Indisponível

€5
Mais detalhes
  • Ano
  • 1980
  • Edição
  • 2
  • Código
  • LT009443
  • Detalhes físicos
  • Nº Páginas
  • 60

Descrição

« — Senhor Dono do Mundo não deixes que partam as asas dos gaviões, nem deixes que os meninos tenham febre, nem que os velhos morram com os dedos encarquilhados de frio… Não deixes os peixes morrerem à sede no Verão quando os pegos têm falta de água e ajuda os passarinhos gagos a cantar como os seus irmãos de criação. Ajuda as rãs a saltar tão alto que consigam conversar com as borboletas e ajuda as borboletas a ter força para acompanhar as andorinhas. Ajuda as pessoas que se perdem nos lamaçais a encontrar chão seguro e ajuda também as raparigas pobres a casarem com os moços pobres de quem gostam para não serem obrigados a casar com os ricos de que não gostam. Ajuda todas as pessoas a gostarem de todas as pessoas e a gostarem dos bichos e a gostarem das aves e a gostarem dos peixes e a gostarem das ervas e a gostarem do vento e a gostarem do escuro e a gostarem do sol e a gostarem da chuva. Ajuda… Não quero que ninguém roube nada a ninguém, não quero que ponham arames, nem que ponham estacas a cercar as terras e os pomares, não quero que nenhuma mulher seja desonrada nem por ditos nem por ofensas de corpo. Não quero que a água seja pertença dum dono, ou de dois, ou de três, porque a água foi criada pra matar a sede do mundo todo e pra regar as terras do mundo todo, e foi criada pra correr pelas serras abaixo até aos rios e até aos mares sem ser amarrada por ninguém… — É estranho, disse eu com a voz sumida que nem o luar me ouviria. António do Olhos Tristes continuou quieto, imóvel na posição em que se mantinha há um ror de tempo. Eu insisti: — Tenho medo, vamos para o monte. António dos Olhos Tristes, mãos de aloendro no rosto de Lua respondeu, sem se mexer: — Estes lobos não fazem mal. São bichos criados na frescura dos matos, nas escarpas dos brejos, nas cumeadas da serra. São bichos que vivem a vida que é a vida deles. O medo que eles fazem nas pessoas é que lhes lembra, no meio das noites, os lobos que as pessoas criam dentro do peito, dentro do coração: —É desses lobos que elas próprias criaram que as pessoas se arreceiam: — São os lobos da alma.»

António dos olhos tristes xx

€5

LT009443
1980
Eduardo Olímpio
Editora Didáctica
Idioma Português PT
Estado : Usado 4/5
Encadernação : Brochado
Disponib. - Indisponível

Mais detalhes
  • Ano
  • 1980
  • Edição
  • 2
  • Código
  • LT009443
  • Detalhes físicos

  • Nº Páginas
  • 60
Descrição

« — Senhor Dono do Mundo não deixes que partam as asas dos gaviões, nem deixes que os meninos tenham febre, nem que os velhos morram com os dedos encarquilhados de frio… Não deixes os peixes morrerem à sede no Verão quando os pegos têm falta de água e ajuda os passarinhos gagos a cantar como os seus irmãos de criação. Ajuda as rãs a saltar tão alto que consigam conversar com as borboletas e ajuda as borboletas a ter força para acompanhar as andorinhas. Ajuda as pessoas que se perdem nos lamaçais a encontrar chão seguro e ajuda também as raparigas pobres a casarem com os moços pobres de quem gostam para não serem obrigados a casar com os ricos de que não gostam. Ajuda todas as pessoas a gostarem de todas as pessoas e a gostarem dos bichos e a gostarem das aves e a gostarem dos peixes e a gostarem das ervas e a gostarem do vento e a gostarem do escuro e a gostarem do sol e a gostarem da chuva. Ajuda… Não quero que ninguém roube nada a ninguém, não quero que ponham arames, nem que ponham estacas a cercar as terras e os pomares, não quero que nenhuma mulher seja desonrada nem por ditos nem por ofensas de corpo. Não quero que a água seja pertença dum dono, ou de dois, ou de três, porque a água foi criada pra matar a sede do mundo todo e pra regar as terras do mundo todo, e foi criada pra correr pelas serras abaixo até aos rios e até aos mares sem ser amarrada por ninguém… — É estranho, disse eu com a voz sumida que nem o luar me ouviria. António do Olhos Tristes continuou quieto, imóvel na posição em que se mantinha há um ror de tempo. Eu insisti: — Tenho medo, vamos para o monte. António dos Olhos Tristes, mãos de aloendro no rosto de Lua respondeu, sem se mexer: — Estes lobos não fazem mal. São bichos criados na frescura dos matos, nas escarpas dos brejos, nas cumeadas da serra. São bichos que vivem a vida que é a vida deles. O medo que eles fazem nas pessoas é que lhes lembra, no meio das noites, os lobos que as pessoas criam dentro do peito, dentro do coração: —É desses lobos que elas próprias criaram que as pessoas se arreceiam: — São os lobos da alma.»