Este livro de contos divide-se em três partes que são significativas duma visão global do mundo rural: «Vila Amarga da Fantasia, «Terra Quente», «Terceiro Andamento: Violência Cega antes de Ser Livre. Isto é, numa primeira fase surge uma tentativa de apresentação da vila através de um pendor onírico de simpatia, seguidamente o reconhecimento do calor e da forca com que a terra chama ao modo passional, e finalmente o elemento ideológico torna-se mais transparente encarando o excessivo do homem rural como garantia da sua capacidade de futura libertação. Neste contexto, o termo transmontano, em título, torna-se demasiado restritivo, embora valha simbolicamente. O próprio quadro de situações e dos chamados tipos sociais remete, acima de tudo para o mundo rural do País. Esse quadro é traçado com extraordinário equilíbrio de variedade e regularidade tanto de processos como de acontecimentos, dentro de uma evidente segurança e amadurecimento no acto de contar uma história. Isso impede a monotonia e o enfatismo com que não raro a literatura de tendência realista abafa a criatividade das narrativas, mas, por outro lado, não deixa de se verificar, na perspectiva do contador, um dimensionamento calculado e sólido que não toma propício o aprofundamento dramático de situações potencialmente explosivas nas suas contradições. Cada conto, veiculando embora lucidez e lirismo ou sentido trágico, manifesta um exercício do controlo a par e passo, preferindo a discrição, a alusividade, o apontamento rápido. — DUARTE FARIA (Colóquio/Letras, n.° 68 de Julho de 1982)
Este livro de contos divide-se em três partes que são significativas duma visão global do mundo rural: «Vila Amarga da Fantasia, «Terra Quente», «Terceiro Andamento: Violência Cega antes de Ser Livre. Isto é, numa primeira fase surge uma tentativa de apresentação da vila através de um pendor onírico de simpatia, seguidamente o reconhecimento do calor e da forca com que a terra chama ao modo passional, e finalmente o elemento ideológico torna-se mais transparente encarando o excessivo do homem rural como garantia da sua capacidade de futura libertação. Neste contexto, o termo transmontano, em título, torna-se demasiado restritivo, embora valha simbolicamente. O próprio quadro de situações e dos chamados tipos sociais remete, acima de tudo para o mundo rural do País. Esse quadro é traçado com extraordinário equilíbrio de variedade e regularidade tanto de processos como de acontecimentos, dentro de uma evidente segurança e amadurecimento no acto de contar uma história. Isso impede a monotonia e o enfatismo com que não raro a literatura de tendência realista abafa a criatividade das narrativas, mas, por outro lado, não deixa de se verificar, na perspectiva do contador, um dimensionamento calculado e sólido que não toma propício o aprofundamento dramático de situações potencialmente explosivas nas suas contradições. Cada conto, veiculando embora lucidez e lirismo ou sentido trágico, manifesta um exercício do controlo a par e passo, preferindo a discrição, a alusividade, o apontamento rápido. — DUARTE FARIA (Colóquio/Letras, n.° 68 de Julho de 1982)