«Trata-se, como afirmou Mestre Dinis Machado de «uma história revitalizada de ‘tristes, solitários e finais’, na expressão de Chandler depois recuperada por Osvaldo Soriano, e que foi durante muito tempo emblema do romance negro». Mas eu atrevo-me a dizer que é também algo mais do que isso. A trama do romance decorre essencialmente no dark side noctívago da Lisboa dos anos 80 e 90. Polvilhada de sexo, drogas e rock’n’roll em doses proporcionalmente generosas, percorre um universo onde se cruzam junkies, yuppies, proxenetas, putas-de-luxo ou assim-assim, encantados e desencantados da vida, e onde não falta sequer um leão-de-pedra com tiques de intelectual, na circunstância travestido de porteiro do Novyork, um dos vários bares onde se desenrolam boa parte destes fados.» Viriato Teles
«Um dia, era o chuvoso Outono de 98 quase no fim, calcorreava sem destino as vielas laterais por onde praticamente nunca passava e descobri quase sem querer o Novyork. O nome fisgou-me logo. Pesei durante alguns segundos se entrava ou não. Cedo era. Ver as mesmas caras de sempre nas mesmas tascas do costume, cheias dos mesmos garotos de todos os fins-de-semana a enxofrarem-se de cerveja até à hora do último barco e do último comboio para as reluzentes periferias, também não me apetecia por aí além. Atirei-me portanto ao porteiro com um polido boa-noite. Este, fardado com o rigor de naftalina dos antigos comodoros de estação ferroviária, fez-me sentir num tribunal de polícia a responder por desacatos na via pública. Os seus olhos, onde as cataratas e a pinga haviam já desenhado milhares de minúsculas estrias vermelhazuladas, executaram um impertinente movimento de câmara desde a minha cabeça até aos meus pés. Muito boa noite faça o favor de entrar.» Excerto do livro
«Trata-se, como afirmou Mestre Dinis Machado de «uma história revitalizada de ‘tristes, solitários e finais’, na expressão de Chandler depois recuperada por Osvaldo Soriano, e que foi durante muito tempo emblema do romance negro». Mas eu atrevo-me a dizer que é também algo mais do que isso. A trama do romance decorre essencialmente no dark side noctívago da Lisboa dos anos 80 e 90. Polvilhada de sexo, drogas e rock’n’roll em doses proporcionalmente generosas, percorre um universo onde se cruzam junkies, yuppies, proxenetas, putas-de-luxo ou assim-assim, encantados e desencantados da vida, e onde não falta sequer um leão-de-pedra com tiques de intelectual, na circunstância travestido de porteiro do Novyork, um dos vários bares onde se desenrolam boa parte destes fados.» Viriato Teles
«Um dia, era o chuvoso Outono de 98 quase no fim, calcorreava sem destino as vielas laterais por onde praticamente nunca passava e descobri quase sem querer o Novyork. O nome fisgou-me logo. Pesei durante alguns segundos se entrava ou não. Cedo era. Ver as mesmas caras de sempre nas mesmas tascas do costume, cheias dos mesmos garotos de todos os fins-de-semana a enxofrarem-se de cerveja até à hora do último barco e do último comboio para as reluzentes periferias, também não me apetecia por aí além. Atirei-me portanto ao porteiro com um polido boa-noite. Este, fardado com o rigor de naftalina dos antigos comodoros de estação ferroviária, fez-me sentir num tribunal de polícia a responder por desacatos na via pública. Os seus olhos, onde as cataratas e a pinga haviam já desenhado milhares de minúsculas estrias vermelhazuladas, executaram um impertinente movimento de câmara desde a minha cabeça até aos meus pés. Muito boa noite faça o favor de entrar.» Excerto do livro