Século IX. Uma Europa quase unificada, forjada por Carlos Magno, vai-se desintegrando, enquanto a dinastia Carolíngia se degaldia em constantes lutas fratricidas. A Roma clássica há muito que morreu. A Europa que está para nascer não é ainda sequer um sonho. É um continente de grandes florestas, de pequenos povoados, de cidades decadentes, onde os excessos carnais e a crueldade supersticiosa abundam. No entanto, a civilização antiga ainda brilha na opulenta Constantinopla, a Roma do Oriente. Num mosteiro em Siani, célebre pela sua biblioteca, os monges copiam antigos manuscritos. Entre estes, foi encontrado um pergaminho que será copiado vários séculos depois de ter sido realizado: «De acordo com o Catálogo Oficial dos papas, depois de o Santo Padre Leão IV morrer, no ano do Nosso Senhor de oitocentos e cinquenta e cinco, sucedeu-lhe o Papa Bento III. Eu, Martin Paschal, juro pela minha alma eterna que o Catálogo mente. Leoão morreu no vigésimo dia de Junho, no ano de oitocentos e cinquenta e quatro, e a ele sucedeu João, que era uma mulher, que se sentou no trono papal durante dois anos, cinco meses e quatro dias...» Martin Paschal, profundo observador da natureza humana, regista para a posteridade a vida da Europa na Idade das Trevas. Porém, escreve sob uma perspectiva única: foi o amigo de infância , o confidente e, por fim, o amante de Joannes Angliorum, que ficou para a história - ou, se assim o quisermos, conhecido por uma história que poderá nunca ter existido - como Papa João VIII. Não o papa João VIII que reinou vinte e cinco anos mais tarde. Este é o Papa cujo nome é mencionado - quando o é - em sussurros murmurados por detrás de portas fechadas. Porque, vejamos. Este não era o Papa João - mas sim a Papisa Joana.
Século IX. Uma Europa quase unificada, forjada por Carlos Magno, vai-se desintegrando, enquanto a dinastia Carolíngia se degaldia em constantes lutas fratricidas. A Roma clássica há muito que morreu. A Europa que está para nascer não é ainda sequer um sonho. É um continente de grandes florestas, de pequenos povoados, de cidades decadentes, onde os excessos carnais e a crueldade supersticiosa abundam. No entanto, a civilização antiga ainda brilha na opulenta Constantinopla, a Roma do Oriente. Num mosteiro em Siani, célebre pela sua biblioteca, os monges copiam antigos manuscritos. Entre estes, foi encontrado um pergaminho que será copiado vários séculos depois de ter sido realizado: «De acordo com o Catálogo Oficial dos papas, depois de o Santo Padre Leão IV morrer, no ano do Nosso Senhor de oitocentos e cinquenta e cinco, sucedeu-lhe o Papa Bento III. Eu, Martin Paschal, juro pela minha alma eterna que o Catálogo mente. Leoão morreu no vigésimo dia de Junho, no ano de oitocentos e cinquenta e quatro, e a ele sucedeu João, que era uma mulher, que se sentou no trono papal durante dois anos, cinco meses e quatro dias...» Martin Paschal, profundo observador da natureza humana, regista para a posteridade a vida da Europa na Idade das Trevas. Porém, escreve sob uma perspectiva única: foi o amigo de infância , o confidente e, por fim, o amante de Joannes Angliorum, que ficou para a história - ou, se assim o quisermos, conhecido por uma história que poderá nunca ter existido - como Papa João VIII. Não o papa João VIII que reinou vinte e cinco anos mais tarde. Este é o Papa cujo nome é mencionado - quando o é - em sussurros murmurados por detrás de portas fechadas. Porque, vejamos. Este não era o Papa João - mas sim a Papisa Joana.