Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
«Em 1554, La vida del Lazarillo de Tormes y de sus fortunas y adversidades fez um amável trabalho de escândalo. […] Julio Cejador detém-se sobre o que teria sido, sob Filipe II, a sua popularidade: «Foi o livro de todos, dos letrados e dos leigos, do baixo povo e das pessoas da alta sociedade. Aventureiros e caminhantes não se esqueciam de o levar na bolsa, tal como estava na mochila de carregadores e soldados. Era visto na sala dos pajens e dos criados, e não menos na alcova das senhoras, na sala das damas e na secretária dos eruditos.» O Lazarilho começava este êxito de best-seller quinhentista pelo estilo, recusando-se aos excessos verbais que os grandes nomes da literatura espanhola então afagavam; apoiava-se numa coloquialidade não conhecida ou pelo menos rara entre os escritores da época. Era, para ouvidos e sentimentos, de um realismo penetrante em linguagem de povo; uma reconhecível visão parodística da vida que então rodeava os seus leitores: visão da Espanha decadente, empobrecida com a emigração para as Américas e com as guerras, a que suscitava esta crítica de amargo humor a uma nova sociedade de burguesia a nascer, com parasitismos e ociosidades, abundância de deserdados e avessa, por descrença, aos méritos do trabalho.» Aníbal Fernandes
Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
«Em 1554, La vida del Lazarillo de Tormes y de sus fortunas y adversidades fez um amável trabalho de escândalo. […] Julio Cejador detém-se sobre o que teria sido, sob Filipe II, a sua popularidade: «Foi o livro de todos, dos letrados e dos leigos, do baixo povo e das pessoas da alta sociedade. Aventureiros e caminhantes não se esqueciam de o levar na bolsa, tal como estava na mochila de carregadores e soldados. Era visto na sala dos pajens e dos criados, e não menos na alcova das senhoras, na sala das damas e na secretária dos eruditos.» O Lazarilho começava este êxito de best-seller quinhentista pelo estilo, recusando-se aos excessos verbais que os grandes nomes da literatura espanhola então afagavam; apoiava-se numa coloquialidade não conhecida ou pelo menos rara entre os escritores da época. Era, para ouvidos e sentimentos, de um realismo penetrante em linguagem de povo; uma reconhecível visão parodística da vida que então rodeava os seus leitores: visão da Espanha decadente, empobrecida com a emigração para as Américas e com as guerras, a que suscitava esta crítica de amargo humor a uma nova sociedade de burguesia a nascer, com parasitismos e ociosidades, abundância de deserdados e avessa, por descrença, aos méritos do trabalho.» Aníbal Fernandes